Odontologia Equina: Bragnatismo/ Prognatismo em Potros

Odontologia Equina: Bragnatismo/ Prognatismo em Potros

Das enfermidades orais que acometem os equinos, as ocorrências dentárias constituem a terceira casuística mais comum na abundante prática animal nos Estados Unidos. Neste contexto, estas afecções incluem problemas de oclusão como o bragnatismo e prognatismo (OMURA, 2009).

O Bragnatismo é uma deformação congênita e hereditária em que consiste no encurtamento anormal da mandíbula em relação à pré-maxila, sem oclusão entre os dentes incisivos; ou seja, os incisivos maxilares encontram-se projetados à frente dos dentes incisivos mandibulares.  (DEBOWES & GAUGHN, 1998; EASLEY, 2011). É funcionalmente debilitante, porém, se descoberto nos primeiros seis meses de vida, é possível recorrer a tratamento (EASLEY, 2011). Esta condição cria padrões anormais de desgaste em que os incisivos superiores tornam-se excessivamente longos devido à inexistência de superfície de contato.

A maior parte dessas afecções não são diagnosticas até que o potro tenha alguns meses de vida, pois, frequentemente, não há deformidades faciais e o potro não apresenta dificuldades em amamentar-se ou respirar (DeBOWES & GAUGHN,1998).

Quando o diagnóstico é precoce, pode-se ser possível estabelecer tratamento, portanto, é muito importante incluir o exame da cavidade bucal ao exame clínico dos potros logo após o nascimento, de forma que problemas congênitos, como esses, possam ser rapidamente diagnosticados e as medidas necessárias possam ser tomadas. (OMURA, 2009; ARCHANJO, 2009).

O diagnóstico é realizado mediante inspeção da cavidade oral pelo médico veterinário, sendo que, o uso de exames radiográficos podem ser utilizados para complementar o diagnóstico, provendo melhor detalhamento sobre a condição em que o animal apresenta (DeBOWES;GAUCHAN,1998).

Embora em potros novos lactantes as consequências dos transtornos de oclusão sejam amenas devido à dieta essencialmente líquida, os hábitos alimentares mudam e passam exigir apreensão e a mastigação adequadas, podendo culminar em complicações. As maiores dificuldades dos animais acometidos consistem na apreensão do capim em pastos baixos, mastigação deficiente, principalmente naqueles que apresentam também oclusão defeituosa nos dentes pré-molares e molares, podendo ainda apresentar problemas na performance esportiva e desenvolvimento corporal (OMURA, 2009). Segundo Thomassian (2005) e Engstrom (2003), se o cavalo não desgastasse seus dentes incisivos através da mastigação ou da apreensão de forragem, estes podiam tornar-se muito longos, podendo, então, alterar a oclusão dos dentes caudais, o que impediria a trituração adequada do alimento, além da deficiência de umedecer as partículas, fatos estes que podem ocorrer com animais bragnatas/prognatas.

Tanto os fenômenos químicos na boca, como os subsequentes no estômago e intestino delgado, bem como os biológicos no intestino grosso, dependem da sanidade e da eficiência dentária sobre os alimentos sólidos, com a finalidade de aperfeiçoar a digestibilidade dos alimentos sem que ocorra indigestão, que em equinos quase sempre resultará em cólica, diarreia e, a longo prazo, caquexia (ALVES, 2004, ENGSTROM, 2003).

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Figura 1: Êxito na correção de bragnatismo em potro. DIXON (2005)

O bragnatismo é uma distrofia relativamente incomum entre os equinos e, algumas raças, como a Quarto de Milha, Appaloosa, Paint Horse e a Puro Sangue Inglês parecem ser mais afetadas que outras raças. Enquanto que, pôneis e mini-equinos apresentam mais comumente malformação inversa, o prognatismo, onde a mandíbula é maior do que a pré-maxila (FRASER, 2001; DIXON, 2005; THOMAZIAN, 2005; OMURA, 2009), porém, Orsini (1992) indicou o bragnatismo mandibular como a má oclusão mais comum encontrada em cavalos, e sua prevalência tem sido relatada como sendo de 2 a 5 %, foi observado no mesmo trabalho que os machos eram afetados seis vezes mais do que as fêmeas (EASLEY,1999).

Qualquer tratamento odontológico deve seguir quatro princípios básicos: prevenir ou reduzir desgaste anormal dos dentes, prevenir ou corrigir deslocamento gravitacional do osso incisivo assim como dos dentes incisivos, inibir crescimento rostral da maxila e pré-maxila e estimular crescimento rostral da mandíbula (EASLEY, 1999).

O tratamento do bragnatismo em animais adultos é geralmente paliativo, envolvendo desgaste regular, desgaste dos dentes incisivos e secção dos ganchos formados. É descrito que pode ser possível diminuir o crescimento da área incisiva através da aplicação de fios de aço que circundem a mesma, sendo ancorados nos primeiros dentes caudais (BAKER, 2005).

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Figura 2: Bragnatismo em potro. MARCELO MARTINS JR.

Mcilwraith (1984) citou que, antes dos seis meses de idade, era possível melhorar o encurtamento da mandibula através da fixação de fios de aço desde os incisivos até os primeiros dentes caudais superiores para impedir o crescimento, onde um pino de Steimann era utilizado para fazer uma via de acesso dorsal á linha da gengiva entre o primeiro e o segundo dentes caudais superiores. Um fio de aço de osteossíntese (1,2 mm) era inserido nesta via de acesso e torcido em volta do primeiro dente. O fio era, então, passado cranialmente circundando os dentes incisivos até o lado oposto, onde era fixado ao dente incisivo intermediário. Os fios deveriam ser checados regularmente, pois poderiam soltar-se ou quebrar-se. Os fios eram retirados quando a oclusão pretendida fosse atingida, ou quando não se percebesse mais melhora.

Baker (1985) relatou que um aparelho ortodôntico feito de fios de aço que era fixado no primeiro dente caudal de cada lado podia prover certa correção. Esse aparelho retardava a extensão do diastema superior e do osso incisivo de modo que impedisse o desenvolvimento de sobre mordida. Gift (1992) descreveu tratamento cirúrgico cujos fios de aço eram colocados circundando os dentes pré-molares e os dentes incisivos.

Como o bragnatismo/prognatismo é uma deformação congênita e hereditária, não é indicado o uso reprodutivo dos animais com as descritas afecções. Ressalta-se que, por mais importante que seja o diagnóstico precoce para o tratamento, ele apenas será para corrigir a afecção no potro tratado, proporcionando apenas melhor qualidade de vida ao animal, não ausentando a transmissão de sua característica indesejável à prole.

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Figura 3: Prognatismo em equino jovem. VT NH Veterinary Clinic USA

 

Texto por:

Pedro Henrique Newbery Chineze

9º semestre de Medicina Veterinária, UNOPAR, Arapongas-PR

Mariana Cavalheiro

9º semestre de Medicina Veterinária, UNOPAR, Arapongas-PR

Patricia Rocha

9º semestre de Medicina Veterinária, UNOPAR, Arapongas-PR

Edição e Revisão: Deivisson Aguiar, Médico Veterinário.

 

Referências:

ALVES, G.E.S. Odontologia como parte da gastroenterologia: sanidade e digestibilidade. In: Cong. Bras. Cir. Anest. Vet. Mini Curso de Odontologia Equina, 6, 2004, Indaiatuba, 2004, p.7-22.

ARCHANJO, A. Odontologia Equina: uma história. Disponível em: www.revistahorse.com.br Acesso em: 27 de março de 2009.

BAKER, G .J Oralsurgical techniques In : HARVEY, C . E. Veterinary dentistry. Philadelphia:W.B. Saunders, 1985.p.233.

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DEBOWES R. M. & GAUGHN E. M. Congenital dental diseases of horses. Vet Clin N Am: Equine Pract 1998; 14:2:283-289.

DIXON, P. M.; DACRE, I. A review of equine dental disorders. The Veterinary Journal 169 (2005): 165–187.

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EASLEY, J. Oral and Dental Examination. Focus Meeting on Dentistry, Albuquerque, 411 NM, USA – September 18 – 20, 2011. Acesso em 07 Jun 2013

EASLEY, J. Basic equine orthodontics In: BAKER J.B: EASEY J . EQUINE DENTISTRY. PHILADELPHIA W.B SAUNDERS, 1999 . p 206-2019.

FRASER, C. M. Manual Merck de Veterinária. 8 ed. São Paulo: Roca, 2001. 2980p.

GIFT, L. J  Brachygnathia in horses: 20 cases ( 1979-1989). Journal of American Veterinary Medical Associaton , Schaumburg, v . 200, n.5 , p. 715-719, Mar 1992.

MCILWRAITH, C. W. Equine digestive system. In: JENNINGS, P. J. The practice of large animal surgery. Philadelphia: W. B Saunders,  1984. V.1 .p. 554-580.

OMURA, C. M. Dentes e Companhia – Odontologia Equina. Disponível em: http://equinocompleto.com.sapo.pt/w004.htm Acesso em: 31 de março de 2009.

ORSINI, P.G. Oral cavity. In:AUER,A.A Equine surgery.Philadelphia W.B Saunders, 1985. P. 1206.

THOMASSIAN, A. Enfermidades dos equinos. 4 ed. São Paulo: Livraria Varela, 2005. 573p.

 

 

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