Odontologia Equina: Pontas Excessivas de Esmalte

Odontologia Equina: Pontas Excessivas de Esmalte – Atendimento Dr. Luis Guilherme Pereira Guerra

Distúrbio mais frequente na odontologia equina, as pontas excessivas de esmalte dentário (PEED) tem incidência entre 44 e 72% nos casos, sendo normalmente encontrada em equinos adultos (Pagliosa et al., 2006).

A formação dessas pontas excessivas ocorre devido à mudanças no hábito alimentar dos equinos, sendo a quantidade de alimento concentrado aumentada e a oferta de forragem diminuída, de forma que o movimento mastigatório se torne mais vertical, levando a alterações no desgaste dentário e a formação das PEED (Baker, 2002).

PEED Luis Guilherme 1 PEED Luis Guilherme 2

Equinos com PEED apresentam na sua grande maioria problemas digestórios, como síndromes cólicas e emagrecimento progressivo. Tais distúrbios são consequência de uma trituração inadequada dos alimentos, levando a uma digestão demorada dos nutrientes (THOMASSIAN, 2005).

A justificativa para esses problemas secundários são as pontas excessivas de esmalte dentário onde a biomecânica da mastigação do animal estará afetada, devido a alterações do ângulo de oclusão dos dentes molares e pré-molares maxilares e mandibulares (Pagliosa et al., 2006)

Outros problemas encontrados em equinos com PEED são feridas e úlceras muito dolorosas em língua e todo vestíbulo oral (pagliosa, 2006).

O tratamento odontológico através da remoção das pontas excessivas de esmalte dentário além de ser corretivo também é indicado como forma preventiva em animais que não apresentem lesões orais, alterações alimentares ou escore corporal inadequado, pois o desgaste proporciona uma mastigação correta e aumenta a digestibilidade dos carboidratos estruturais em equinos (Pagliosa et al., 2006)

MATERIAIS E MÉTODOS

Peguei um caso de um equino macho, com 2,5 anos de idade, raça Manga Larga, pelagem pampa de alazã, 324 kg, com queixa de emagrecimento progressivo e fezes amolecidas há seis meses.

Durante a anamnese, o proprietário relatou acompanhar o animal diariamente, desde o nascimento o animal é cabresteado e o mesmo vive com mais 12 animais assintomáticos. Relatou a defecação com fezes de consistência amolecidas há seis meses, deixa alimento no cocho quando se alimenta e que a um mês o animal apresentou “travagem” (hiperplasia de palato), sendo realizado o tratamento cirúrgico, após o tratamento o animal apresentou melhora na alimentação, e que as fezes variavam de cibalas e pastosas.

O animal foi desmamado com seis meses e desde então, vivia em um piquete de Tifton durante o dia, já a noite repousava em baia e recebia ração comercial (15% de PB), 3kg de aveia em dois tratos, sal mineral  e feno de Tifton.        

O médico veterinário que realizou o tratamento da hiperplasia de palato relatou que a causa do emagrecimento do animal era devido a uma má-absorção proteica, sendo então monitorada a proteína plasmática total (PPT) do animal que estava em média de 4,8 g/dL, confirmando a suspeita de hipoproteinemia.

O animal recebeu tratamento prévio estabelecido pelo veterinário da propriedade com um frasco de Benzilpenicilina benzatina, Benzilpenicilina procaína, Benzilpenicilina potássica, sulfato Diidroestreptomicina base e sulfato Estreptomicina, SID durante sete dias, além de probiótico e vermífugo. Foi realizado ainda o exame coproparasitológico, com resultado negativo, porém não foi observado melhora do quadro de emagrecimento.

Nesse procedimento específico, precisei utilizar materiais de grosagem, mais especificamente uma Caneta Odontológica com angulação na ponta, com Broca Diamantada Vestibular. O Disco padrão também foi vital para o procedimento de desgaste.

RESULTADOS

PEED Luis Guilherme Final

Ao exame físico o animal apresentava atitude de estação alerta, mucosas róseas, escore corporal magro, hidratado, motilidade intestinal normal nos quatro quadrantes, frequência respiratória de 24 mpm, frequência cardíaca de 40 bpm, temperatura retal de 37,9°C, fezes pastosas com partículas de alimento, hiperplasia de palato e pontas excessivas de esmalte dentário.

Foram solicitados então exames complementares, tais como: Hemograma, Bioquímicos (Uréia, Creatinina, Aspartato Amino Transferase (AST), Fosfatase Alcalina (FA), Gama Glutamil Transferase (GGT), Proteína Plasmáticas Totais, Albumina, Globulina e Bilirrubinas), Exame Coproparasitológico, além de Ultrassonografia Abdominal.

O Hemograma apresentou diminuição nas Proteínas Plasmáticas Totais (5,2g/dL) e Leucocitose. Os exames bioquímicos estavam diminuídos em FA, AST, GGT, albumina e globulina. O coproparasitológico resultou em negativo para as técnicas realizadas. Já o exame ultrassonográfico foi observado uma estrutura tubular hiperecogênica no interior de um segmento de alça de intestino delgado, podendo ser conteúdo alimentar fibroso ou parasita intestinal e presença de discreta quantidade de líquido livre em cavidade abdominal. Já os demais órgãos, não apresentaram evidências de alterações ultrassonográficas.

O tratamento utilizado para o paciente foi a odontoplastia para a correção das pontas excessivas de esmalte dentário, conforme indicado pela literatura, após a correção, o animal recebeu alta hospitalar.

CONCLUSÃO

Os equídeos se alimentam em media 16 horas por dia, sendo indicada uma proporção maior de alimentos fibrosos em relação a alimentos concentrados, pois desta forma as patologias dentarias, tais como as PEED, surgem com muito menos frequência.

REFERÊNCIAS
BAKER, G.J. Dental physiology. In: EASLEY, K.J.; BAKER, G.J. Equine dentistry. London: W.B. Saunders, 2002. p. 29-34.
PAGLIOSA, G.M; ALVES G.E.S; Faleiros R.R., et al. Doença periapical em eqüinos: estudo de quatro casos. Arq. Bras. Med. Vet. Zootec. Belo Horizonte – MG, vol.56, n.1, p. 32-35, 2004.
THOMASSIAN, A. Enfermidade dos cavalos, 4ªed, São Paulo: Varela, 2005, p. 265– 276.
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