A estimativa de idade através do exame dentário tem sido uma prática de grande importância em situações nas quais não se possui um tipo de registro documental do animal e que se precise dessa informação, seja com finalidade econômica, visto que a idade do mesmo pode interferir no valor comercial; produtiva, para se estimar o que se pode esperar futuramente; ou para indicar quais os cuidados odontológicos e nutricionais que ele precisará durante a vida.
Essa apreciação pode ser feita pelas modificações que ocorrem na estrutura dos dentes, durante a vida do animal e deve-se levar em consideração outros aspectos, como a presença de pelos brancos em determinadas regiões, estado geral e comportamento.
Os equinos são considerados heterodontes, por possuírem mais de um tipo de dente, sendo eles: incisivos (nomeados de pinça, médio e canto), caninos, molares e pré-molares. E também, classificados como difiodontes, por ocorrer apenas uma substituição dos dentes de leite (chamados de decíduos) por dentes permanentes. Que se adaptarão melhor a estrutura óssea mandibular e proporcionará uma mordida mais forte quando adultos. A diferenciação dos decíduos se dá pela aparência, pois são menores e mais esbranquiçados, quando comparados com os definitivos.
Na primeira dentição eles possuem 24 dentes, tendo apenas incisivos e pré-molares, e após a troca, há uma oscilação na fórmula dentária, onde machos podem ter de 40 a 44 dentes, e fêmeas, de 36 a 44 dentes. Essas variações se devem ao fato de que o canino pode não existir em éguas, ou ser rudimentar em ambos os sexos e também pela presença irregular do primeiro pré-molar, chamado de dente de lobo.
O dente pode ser divido em 3 segmentos: a coroa, que é a parte exposta e visível, o colo, região que separa a coroa da raiz localizada próximo à gengiva, e a raiz, parte interna que se encerra no alvéolo ósseo. Na parte interna, há a cavidade pulpar, que na raiz, forma o forame apical, por onde passa inervação e vasos.
Ele é constituído, em geral, por 3 componentes de tecido mineralizado: o esmalte, uma fina camada sob a superfície dentaria, a dentina, que se localiza sob o esmalte e a polpa, que se encontra na parte interior. E sua fixação é feita por um conjunto designado como periodonto, que é formado pelo cemento, o ligamento periodontal e o osso alveolar.
A avaliação para a estimativa etária se baseia na observação da erupção, da troca de dentes decíduos, do seu desenvolvimento até o nível da arcada e do desgaste atritural provocado na face oclusal da mesa dentária dos incisivos, visto que são os dentes mais acessíveis e que mais sofrem alterações com o tempo. Essa determinação é mais exata quando feita em animais de até 6 anos. A partir daí, os incisivos mandibulares começam a serem usados e sofrem influencia de diversos fatores como o tipo e qualidade da alimentação fornecida e comportamentos estereotipados. Potros podem nascer com os incisivos de pinça, ou sem nenhum dente. Caso isso ocorra, a erupção dos mesmos acontecerá aos 8 dias de vida, dos médios com 8 semanas e os de canto com 8 meses.
A troca dos dentes decíduos pelos permanentes se inicia aos 2 anos e meio. Pelos incisivos, os pré- molares e por fim, os molares, quando o animal possuir entre 4 e 5 anos. A partir daí, a estimativa é feita por meio de outros indicativos, resultantes do desgaste gerado por ações abrasivas e de atrito da mastigação.
O desgaste começa na face labial do dente, que é a região voltada para os lábios e bochechas, dividindo o esmalte em duas partes até chegar ao infundíbulo, ou cálice, que seria uma invaginação coberta por cemento de aproximadamente 6 mm de profundidade.
Ocorre uma deterioração de, aproximadamente 3 mm de coroa por ano, por tanto, o cálice desaparecerá após 3 anos do inicio do desgaste, fazendo com que o dente fique nivelado. Mas para que não se tenha uma exposição da cavidade pulpar, há uma proliferação de dentina secundária, que se apresenta com uma macha retangular, que se tornará mais arredondada á medida que o cavalo envelhece, chamada de estrela dentária. Ela surgirá nos incisivos de pinça aos 8 anos, nos médios aos 9 e nos cantos aos 10.
Na tabela a seguir, indicam-se as idades aproximadas dos acontecimentos citados acima.
Outros aspectos a serem observados na arcada maxilar são: o achatamento dos incisivos da face oclusal para a raiz, que se modifica gradualmente para lateral. Assim, da extremidade livre para a raiz, a secção dos mesmos evolui de uma forma aproximadamente elíptica para oval, redonda, triangular e finalmente de novo oval. (KNOTTENBELT e PASCOE, 1998; CALDEIRA et al., 2002; SILVA et al., 2003). E também o espaço que este achatamento irá provocar, fazendo que a linha gengival fique mais evidente, e os dentes mais espaçados.
Na arcada mandibular, existem duas condições que podem ser observadas no decorrer do envelhecimento do animal: a cauda de andorinha e o sulco de Galvayne.
A cauda de andorinha é formada na face lingual do canto superior dos incisivos, decorrente à falta de desgaste com os inferiores, pela oclusão parcial. Ela é caracterizada como um gancho e se torna evidente a partir dos 7 anos de idade, mas sua presença não deve ser considerado como um fator fidedigno, quando observado isoladamente.
O sulco de Galvayne é definido como um sombreado de coloração escura, visível na face labial dos incisivos a partir dos 10 anos de idade, próximo ao bordo gengival. Aos 20 anos ele é aparente em todo o comprimento dentário, até a face oclusal, e conforme o cavalo se torna mais velho, o sulco começa a sumir, de modo que, aos 30 anos, ele se torna inaparente.
A estimativa de idade através de exame dentário em equinos se trata de um processo complexo que envolve a observação de diversos aspectos que se alteram com o tempo e são influenciados por fatores individuais. Pode-ser utilizar a radiografia como uma alternativa ou como um método complementar em casos que necessitam de uma exatidão maior na estimativa.
Referencias Bibliográficas:
JONES, Steven. Aging Horses by Their Teeth. University Of Arkansas, United States Department Of Agriculture, And County Governments Cooperating, Arkansas.
Knottenbelt, D. (1996-97). Ageing of Horses. CD-rom. Universityof Liverpool.
KONIG, Horst Erich; KONIG, Horst Erich; SÓTONYI, P.. Sistema Digestório. In: KONIG, Horst Erich; KONIG, Horst Erich. Anatomia dos Animais Domésticos. 4. ed. Porto Alegre: Artmed, 2011. Cap. 7. p. 321-387
MARTIN, Michael T. et al. A Systematic Approach to Estimating the Age of a Horse. In: ANNUAL CONVETION OF THE AAEP, 4., 1999, Proceedings. Ivis, 1999. v. 45, p. 272 – 275.
RICHARDSON, Jill. Ageing horses- an illustrated guide. Equine Pratice, Liverpool, p.486-489, nov. 1997.
SILVA, M. Fraústo da et al. Estimativa Da Idade Dos Equinos Através de Exame Dentário. Revista Portuguesa de Ciências Veterinárias, Lisboa, v. 98, n. 547, p.103-110, 2003.
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